quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O objetivo principal das palavras é o desnudar. A palavra só cumpre satisfatoriamente sua função quando consegue preencher sem brechas o que antes era, se não vazio, desconhecimento.
Por si só, palavras não representam nada, mas quando assumem seu verdadeiro papel são como legendas de um filme iraniano (ninguém aqui fala iraniano, certo?), traduzindo e tornando claro o que a princípio poderia ser apenas compreendido em superfície, por associação.
Como quando a gente diz saudade e a palavra brota do fundo do fundo das coisas e vai carregando consigo tudo o que vê pela frente. Todo mundo sente saudade, todo mundo sabe bem o que é. Mas vai lá definir isso. Tenta só definir uma saudade profunda sem citar a palavra em si. É muito difícil carregar a complexidade do que saudade quer dizer, sem citar a palavra. 
E esse é o grande valor implícito da linguagem: essa capacidade de compreender o que a gente sente e não sabe dizer.
E a despeito da moral e dos bons costumes o que a gente gosta mesmo é de ficar nú, despidos das nossas máscaras e tentativas. Ser só dentro, ser só alma. Tem nada mais bonito que alguém te conhecer por completo, desvirado, do avesso (mesmo que depois, em algum momento, a gente tenha que tornar a se vestir). E isso é tão digno quando acontece através das palavras. Meu querido Bukowski resumiu isso tudo que eu disse com uma ternura digna de nota: "quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso."
É, Buk, é maravilhoso não estar sozinho. É maravilhoso imaginar que Caio estava certo e que nesse deserto de almas também desertas algumas almas especiais estão por aí, prontas pra colisão. Não existe nada mais restaurador do que Bianca me dizendo que o que sentimos não é em vão. Nada que aqueça mais a sibéria que maltrata dentro do peito do que os poemas do Diego.

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