sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Você desiste da faculdade, resolve reformular a vida toda, repensar tudo e dar o próximo passo. E, tá, vamos lá, ok... Mas, é... Qual é o próximo passo?
Fiquei estagnada nessa questão um bom tempo. Olhando pra dentro e pra fora de mim e  só enxergando a bagunça toda que eu fui fazendo ao longo desse ano. Não conseguia me achar em nada, em ninguém. Deus virado de costas com uma plaquinha pregada na bunda: foda-se tu. A solidão estampada em todas as minhas máscaras.
E aí veio o boom. E abençoados sejam os boom, e que sempre hajam os boom. BOOM, minha filha, você existe, vá fazer algo com isso. O peido de deus, que balança a plaquinha e anuncia a tempestade. Deus peida e o mundo gira. E eu fui embora de mim.
Pedi uma resposta pro Universo: help me to find a way. Assim, em inglês, porque soa mais impessoal e incisivo. Como boa filha da minha mãe, saí, comprei uma melissa lin-da, fiz a sobrancelha, cortei o cabelo e. E descobri, no meio do caminho, que Deus é paulista e estava sussurrando no meu ouvido, daquele jeito como só os deuses que são paulistas sabem:
- Minha filha, vai trabalhar.

E, de repente, eu estava ali, cercada de livros e de gente que gosta de livros e que compra livros de presente pra dar pros amigos e que deixa aquele livro que ele veio buscar porque lembra que o filho queria aquele outro, mas que custa o dobro do preço. 
Bonito mesmo é quando chega um cara travestido de bobo, uma menina do lado, alianças no dedo:
- Moça, quero um livro de roteiro de viagens.
E na imensidão de prateleiras, enquanto corro pra pedir ajuda mais uma vez, fico imaginando os dois rodando o mundo a la Murad Osmann.
Entra e sai de gente de todo jeito. Olinhos curiosos em busca de algo que prometa um novo mundo. A verdade é que dentro de livrarias, todo mundo é lindo demais. Até eu. Mais perdida que tudo, sem saber encontrar sequer o mais best dos best sellers. Às vezes ainda meio confusa entre a linha que me separa entre o dentro e o fora, obrigando alguém a dizer, meio brincando, meio dizendo a verdade, "pára de ler livrinho, tem cliente pra atender".
É, virei vendedora de livros. No Empório Cultural, livraria aqui de Bauru que abriga o 'Café Fernando Pessoa', assim, de uma hora pra outra, sem nem perceber. 

Eu podia ter tentado manter o meu orgulho de princesa da classe média criada a Sucrilhos e Yakult. Podia ter ficado mais um dia enfiada nas minhas leituras pessimistas e nas bobeiras ditas instantaneamente pelo facebook. Ter vontade mesmo de ir trabalhar, mas sempre diluindo essa ideia na lembrança do discurso dos meus professores do colégio militar, que reduzia os vendedores de shopping center em gente-que-não-deu-certo, pra sempre estagnada nessa ideia absurda da dignidade de nunca sujar as mãos, de sempre ter tudo fácil e pronto ou senão nem ter. 
É, eu podia ter chamado meu papai e pedido, mais uma vez, dois e setenta pro busão. Mas resolvi me achar muito boba e enfrentar o mundo inteiro pra tentar algo novo.
Tô viva. E foi bem bonito até. 
E finalmente consigo associar que, bom, esse é um novo ano e esse, felizmente, é um novo lugar.
Recomecemos, pois.

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